Cartas
CARTA À CALIANDRA
Caliandra, Mais conhecida como a flor do cerrado, aquela que aparece quando todas as outras adormecem. A que brota da seca colorindo a savana do planalto central. Acho que você, assim como eu, sente falta da chuva de um jeito […]
Caliandra,
Mais conhecida como a flor do cerrado, aquela que aparece quando todas as outras adormecem. A que brota da seca colorindo a savana do planalto central. Acho que você, assim como eu, sente falta da chuva de um jeito bonito, a seca é sobre saudade da chuva e saudade é sobre lembrar de quem a gente gosta. E nesses tempos sombrios, os sentimentos andam líquidos como água. Mas é na falta que você floresce, e nesse ponto me ensina muito sobre a solitude. Como ter sua melhor versão em períodos de escassez.
Tenho ido atrás de várias histórias sobre você. É que eu gosto muito de uma fofoca, e acho que você também. Descobri por aí que você tem guardado o segredo e o feitiço de todas as outras flores. Essa é a história da sua origem, sobre como você nasceu e fizeram chacota de você da sua forma, das suas pétalas, de onde você veio. E agora, é você que floresce sozinha, enquanto elas são obrigadas a dividir a primavera, a seca é toda tua. Achei um pouco vingativo, mas quanto de vingança não existe na justiça, não é mesmo?
Mas ainda falando em histórias, que alegria a minha, descobrir sua afinidade por elas. Pois, é urgente contarmos, repetirmos e escrevermos novas, outras, nossas histórias. Fico me perguntando como seriam as narrativas que você construiria. Não consigo fabulá-las.
Bom, antes de me despedir queria te dizer como foi bom te encontrar outro dia. Em tempos de isolamento social quase não trombamos com ninguém por aí. Mas naquele domingo, despretensioso, te encontrar sem querer no meio de uma caminhada, iluminou algo, acendeu alguma coisa dentro de mim. Agradeço mais uma vez, pelo esbarrão descombinado.
Abraço daquela que te faz de espelho.
Gisele
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