Atuamos no espaço das relações entre arte e públicos do Museu Nacional da República (MuN). Pensamos sobre preservação, memória e acervo, partindo da compreensão do patrimônio como um bem comum a todas as pessoas e que, portanto, precisa ser pensado de modo conjunto com os públicos.
Iniciamos nossa incursão no acervo do MuN perguntando se existem “plantas” no acervo. A decisão pode parecer inusitada, mas pretende especular sobre uma possível vegetalização do acervo e das ações de mediação, considerando uma possível perspectiva das plantas na reflexão sobre o patrimônio artístico e cultural.
Pensamos que as plantas têm uma qualidade agregadora, capaz de abrigar as múltiplas articulações entre os diversos eixos de atuação do projeto. Enquanto Programa que se propõe a aprender com as plantas, refletimos sobre a importância de se reconhecer a capacidade de atuação da natureza e sua centralidade para enfrentar a crise climática, ambiental e ecológica em curso.
Nossas motivações para a pesquisa do acervo do MuN são:
- pensar a arte e o museu sendo atravessados com as histórias e vidas das pessoas, no período pandêmico, tendo as plantas como mediadoras;
- fomentar o exercício de contar histórias com as plantas do acervo;
- construir junto com os públicos histórias com ou a partir das plantas do acervo do museu.
Dentre cerca de 1.400 trabalhos de arte no acervo do MuN, identificamos 225 obras em que as plantas aparecem de diferentes maneiras, como por exemplo:
Representação – quando as plantas aparecem retratadas, seja em um desenho, pintura ou fotografia;
Material – quando a obra é feita de materiais com origem vegetal, como folhas, fibras naturais, madeira, entre outros;
Ideia – quando o pensamento acerca das plantas se faz presente, mesmo que elas não estejam de fato no trabalho, nem como representação, nem como material, estando, por exemplo, no título da obra;
Ausência – quando as plantas estão presentes pela falta, por exemplo, quando as obras discutem mudanças ambientais, refletem acerca da produção de lixo, da expansão da ocupação urbana ou da industrialização das plantas.
Em um segundo momento da pesquisa no acervo, resolvemos olhar novamente para o conjunto de obras, com um olhar e escuta abertos para entender quais narrativas e histórias essas obras com plantas poderiam nos contar. Chegamos em uma rede de assuntos, que se distribuem em três eixos principais com várias possíveis ramificações que se conectam entre si.
1 – Planta e sociedade: aponta questões sobre a relação entre arte, sociedade, território e natureza.
2 – Planta e indivíduo: investiga caminhos possíveis da relação entre sujeitos e natureza, olhando para o contato íntimo, pessoal e afetivo dos indivíduos com as plantas.
3 – Ecosubjetividade: duas palavras se juntam, ecologia e subjetividade, para pensar a concepção de que o meio ambiente pode assumir um caráter ativo sobre si e sobre o ser humano.
Partimos dos eixos do Programa e da rede de assuntos identificados com a pesquisa do acervo para desenvolver algumas de nossas ações, tais como: os materiais educativos, as ações de mediação #acervodeplantas e cartas para adiar o fim do mundo, além de webinários e oficinas. Com os webinários e oficinas do 1° Ciclo Formativa, abordamos sobretudo a rede de assuntos do eixo planta e sociedade. Com a ação #acervodeplantas abordamos a rede de assuntos do eixo planta e indivíduo, enquanto que, com a ação cartas para adiar o fim do mundo, a rede de assuntos do eixo ecosubjetividade.
Diante dos desafios impostos pela pandemia para o desenvolvimento da pesquisa presencial das 225 obras com plantas do acervo, selecionamos 60 obras para obter imagens em boa qualidade. Para além dos critérios circunstanciais, relativos à disponibilidade e direito de uso da imagem, o que fundamentou essa priorização foi a análise das obras que se relacionam mais diretamente com a identificação dos eixos e suas características, e com os objetivos das ações mediativas e dos materiais educativos.